A cultura avieira é atribuída ao rio Tejo, a sua origem remonta ao século XIX, mas consolidou-se no século XX, quando pescadores vindos de Vieira de Leiria desciam para os rios do sul em busca de sustento por altura do Inverno, quando a ira do mar dava de si e o trabalho em águas profundas se tornava menos rentável e mais perigoso. Os avieiros são, no fundo, fruto de uma migração, mais ou menos recorrente, de um movimento pendular, mas singular no país, pelas marcas que deixou em algumas aldeias que ainda hoje são reconhecidas como aldeias avieiras, sendo Escaroupim exemplo maior. Uma migração, também, controversa, por toda a resistência que estes homens avieiros encontraram por parte da população já ali residente, dura e sem medo de os descriminar.
Das praias de Espinho a Vieira de Leiria muitos foram os que
abadonaram o mar, sendo que no Inverno estes pescadores preferiam a segurança
da pesca de rio, e procuravam no sável a solução para a fome. Anos vieram
até a fixação se dar. Em determinada altura, estes emigrantes da Vieira vieram para o Inverno, e deixaram de voltar à
sua origem no Verão, passando assim a viver como novos “filhos do Tejo”.
Montam-se então as pequenas casas de caniço, ou, havendo
moeda para isso, de madeira pintada de vivas cores, imitando as da Praia de
Vieira de Leiria, habitualmente assentes em pilares para gravitarem acima das
marés do Tejo, e com acesso através de escadas com pouco mais que meia dúzia de
degraus. A decoração destas casas é de uma simplicidade que comove e os
melhores exemplares para visita encontram-se na já falada Escaroupim.
Assim, os avieiros fazem parte dos fenómenos de migração
interna em Portugal. A escassez de recursos económicos e a ausência de trabalho
levaram grande parte desta população a procurar melhores condições de
subsistência. Das praias de Espinho a Vieira de Leiria muitos foram os que, em
meados do séc. XIX, abandonaram as lides do mar para se empregarem nos diversos
empreendimentos fabris que começavam a surgir na região. É neste contexto que
os Avieiros, assim batizados por serem originários da praia de Vieira de
Leiria, terão começado a chegar, mediante processos migratórios sazonais, aos
esteiros do Tejo ainda no séc. XIX.
Deslocando-se nas suas embarcações, de comboio, de carroça e
até mesmo a pé, era em novembro, quando o mar da Praia de Vieira tornava
impossível a faina, que os avieiros assentavam nas margens do Tejo. Vinham à
procura da abundância de peixe que tanto escasseava na sua região de origem,
por aqui ficando até à primavera. De maio a agosto, voltavam aos areais da
Praia de Vieira para, com a chegada de um novo outono, rumarem novamente a
outras paragens. Aos poucos, os períodos passados no Tejo foram-se alargando,
alternando-se a pesca com o trabalho agrícola e com a venda dos seus produtos,
até que, em meados do século XX, começaram a fixar-se em definitivo nas margens
do Tejo. Por meados do século XX, deixaram de regressar a Vieira de Leiria e
foram conquistando as margens do Tejo.
Pequenas aldeias isoladas, de casas palafíticas na sua grande
maioria, surgiram em zonas como a Boca da Vala, Muge, Sabugueiro, Salvaterra,
Benavente, Vala da Azambuja, Caneiras, Palhota, Escaroupim, Porto da Palha,
Casa Branca, Vau, Cabo, Conchoso, Alhandra, Esteiro do Nogueira em Vila Franca
de Xira, Póvoa de Santa Iria, Sacavém, entre outras. Mas aos poucos, a falta de
comodidades como a eletricidade, a água canalizada ou outras estruturas
sanitárias, levou os Avieiros à substituição da casa de madeira, construída
sobre estacaria, por outra de alvenaria.
Como causa provável para a fixação dos primeiros avieiros na
Póvoa de Santa Iria , nas décadas de 50 e 60 do século XX, podemos avançar com
o fato de ali existirem algumas marinhas de sal já em estado de abandono,
situação que propiciava àqueles pescadores condições bastante favoráveis à
preservação,após as capturas . De dezembro a março, uma vez capturado, o
camarão depois depositado nas águas existentes nas marinhas de sal, situação
que permitia não só a sua preservação após a captura, como ainda conferia um
paladar bastante apreciado àqueles crustáceos. Seja qual for a razão ou razões
que terá levado à fixação dos primeiros avieiros na Póvoa de Santa Iria, a
realidade é que esta comunidade criou aqui raízes bastante fortes, tornando-se parte
indissociável da identidade desta cidade e da sua relação com o Tejo.
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