sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Póvoa e o Rio : Avieiros


A cultura avieira é atribuída ao rio Tejo, a sua origem remonta ao século XIX, mas consolidou-se no século XX, quando pescadores vindos de Vieira de Leiria desciam para os rios do sul em busca de sustento por altura do Inverno, quando a ira do mar dava de si e o trabalho em águas profundas se tornava menos rentável e mais perigoso. Os avieiros são, no fundo, fruto de uma migração, mais ou menos recorrente, de um movimento pendular, mas singular no país, pelas marcas que deixou em algumas aldeias que ainda hoje são reconhecidas como 
aldeias avieiras, sendo Escaroupim exemplo maior. Uma migração, também, controversa, por toda a resistência que estes homens avieiros encontraram por parte da população já ali residente, dura e sem medo de os descriminar.

Das praias de Espinho a Vieira de Leiria muitos foram os que abadonaram o mar, sendo que no Inverno estes pescadores preferiam a segurança da pesca de rio, e procuravam no sável a solução para a fome. Anos vieram até a fixação se dar. Em determinada altura, estes emigrantes da Vieira vieram para o Inverno, e deixaram de voltar à sua origem no Verão, passando assim a viver como novos “filhos do Tejo”.  
Montam-se então as pequenas casas de caniço, ou, havendo moeda para isso, de madeira pintada de vivas cores, imitando as da Praia de Vieira de Leiria, habitualmente assentes em pilares para gravitarem acima das marés do Tejo, e com acesso através de escadas com pouco mais que meia dúzia de degraus. A decoração destas casas é de uma simplicidade que comove e os melhores exemplares para visita encontram-se na já falada Escaroupim.

Assim, os avieiros fazem parte dos fenómenos de migração interna em Portugal. A escassez de recursos económicos e a ausência de trabalho levaram grande parte desta população a procurar melhores condições de subsistência. Das praias de Espinho a Vieira de Leiria muitos foram os que, em meados do séc. XIX, abandonaram as lides do mar para se empregarem nos diversos empreendimentos fabris que começavam a surgir na região. É neste contexto que os Avieiros, assim batizados por serem originários da praia de Vieira de Leiria, terão começado a chegar, mediante processos migratórios sazonais, aos esteiros do Tejo ainda no séc. XIX.

Deslocando-se nas suas embarcações, de comboio, de carroça e até mesmo a pé, era em novembro, quando o mar da Praia de Vieira tornava impossível a faina, que os avieiros assentavam nas margens do Tejo. Vinham à procura da abundância de peixe que tanto escasseava na sua região de origem, por aqui ficando até à primavera. De maio a agosto, voltavam aos areais da Praia de Vieira para, com a chegada de um novo outono, rumarem novamente a outras paragens. Aos poucos, os períodos passados no Tejo foram-se alargando, alternando-se a pesca com o trabalho agrícola e com a venda dos seus produtos, até que, em meados do século XX, começaram a fixar-se em definitivo nas margens do Tejo. Por meados do século XX, deixaram de regressar a Vieira de Leiria e foram conquistando as margens do Tejo. 

Pequenas aldeias isoladas, de casas palafíticas na sua grande maioria, surgiram em zonas como a Boca da Vala, Muge, Sabugueiro, Salvaterra, Benavente, Vala da Azambuja, Caneiras, Palhota, Escaroupim, Porto da Palha, Casa Branca, Vau, Cabo, Conchoso, Alhandra, Esteiro do Nogueira em Vila Franca de Xira, Póvoa de Santa Iria, Sacavém, entre outras. Mas aos poucos, a falta de comodidades como a eletricidade, a água canalizada ou outras estruturas sanitárias, levou os Avieiros à substituição da casa de madeira, construída sobre estacaria, por outra de alvenaria. 

Como causa provável para a fixação dos primeiros avieiros na Póvoa de Santa Iria , nas décadas de 50 e 60 do século XX, podemos avançar com o fato de ali existirem algumas marinhas de sal já em estado de abandono, situação que propiciava àqueles pescadores condições bastante favoráveis à preservação,após as capturas . De dezembro a março, uma vez capturado, o camarão depois depositado nas águas existentes nas marinhas de sal, situação que permitia não só a sua preservação após a captura, como ainda conferia um paladar bastante apreciado àqueles crustáceos. Seja qual for a razão ou razões que terá levado à fixação dos primeiros avieiros na Póvoa de Santa Iria, a realidade é que esta comunidade criou aqui raízes bastante fortes, tornando-se parte indissociável da identidade desta cidade e da sua relação com o Tejo.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Modelo 3C3R - Hung


Procurando uma melhor definição  na construção de problemas para ABP, Hung (2006) desenvolveu uma estrutura chamada 3C3R, que tem como componentes centrais o  conteúdo, contexto e conexão (3 Cs) e os componentes de processamento que são pesquisa, argumentação e reflexão (3 Rs, do inglês researching, reasoning, reflecting). Os três “Cs” estão relacionados ao foco na aprendizagem do conteúdo/conceitos, já os três “Rs” dão suporte ao  processo cognitivo, à capacidade de resolver problemas e à aprendizagem  auto direcionada.

Em muitos contextos de aprendizagem tradicionais, professores e alunos concordam com um conjunto claramente definido de conceitos que devem ser memorizados para um teste posterior . A aprendizagem baseada em problemas, no entanto, muitas vezes entrelaça esses conceitos ao longo de uma experiência contextualizada, de resolução de problemas. Em projetos anteriores, essa mudança de foco causou tensões entre os membros que participavam no   projecto, no decorrer do mesmo. Os ambientes foram ainda mais complicados porque as atividades de PBL remetiam para uma aprendizagem conceitual, bem como habilidades para a resolução de problemas, tais como aprendizagem autonoma bem como a concepção de perguntas (Hung, Jonassen e Liu, 2008)

O modelo centra-se em dois aspectos da concepção PBL: componentes de núcleo e componentes de raciocínio.Os componentes do núcleo apresentam uma ênfase no conteúdo, contexto e conexão (3C) do projeto. Esses aspectos configuram a atividade de resolução de problemas considerando a relação com o conhecimento prévio. Os componentes de raciocínio do projeto promovem pesquisa, raciocínio e reflexão (3R). Estes aspectos são importantes porque os processos cognitivos e as habilidades de resolução de problemas são componentes centrais de um sistema PBL.

Para uma equipe de projeto de problemas (PBL), o modelo 3C3R não serve apenas como uma estrutura de um projeto conceptual, mas também como um quadro comum de referência a partir do qual os membros podem discutir e comunicar sistematicamente conceitos e ideias importantes durante o problema (PBL) ou o  projeto curricular. Para os projetistas individuais e professores, o modelo 3C3R fornece uma estrutura conceitual sobre a qual eles podem formular e projetar problemas (PBL) de forma mais sistemática e eficaz. Outra função do modelo 3C3R é que ele fornece uma estrutura conceitual para avaliar, a adequação e eficácia dos problemas (PBL). Os componentes 3C3R podem servir como dimensões conceptuais e critérios para avaliar a eficácia, de problemas (PBL) em termos da concepção de problemas e da aplicação desses problemas.





Hung, Woei  (2006)The 3C3R Model: A Conceptual Framework for Designing Problems in PBL